Um judeu foi procurar o rabino da cidade para contar-lhe seu problema. “Não sei o que fazer. Odeio minha mulher. Parece que ela sempre faz coisas para me provocar.” Envergonhado, continuou, “Às vezes, até penso em matá-la!” O sábio rabino olhou pensativo para o homem. “Há quanto tempo sente-se assim?”
“Quase desde que me casei”, respondeu o homem. “No começo não era tão mal. Mas quando ela me irrita, acho impossível tratá-la bem. E agora, sonho em livrar-me dela para sempre.”
O rabino coçou a barba e disse, “Sabe, há um jeito de matá-la sem ser considerado responsável!”
O homem arregalou os olhos. Jamais esperara que o rabino fosse seu cúmplice, mas precisava de toda e qualquer ajuda. “Diga-me, rabino, o que posso fazer?”
“Bem”, explicou o rabino ao homem simples, “o Midrash diz que se um homem promete uma grande quantia para caridade e não a paga, seu castigo é que sua esposa falecerá. Tudo o que tem de fazer é comprometer-se a doar para a sinagoga uma grande soma e não pagar! Dentro de um ano, garanto que sua esposa estará morta.”
O homem ficou felicíssimo com a boa sorte de ter um rabino tão compreensível e sábio.
“Mas”, acrescentou o rabino, “você não gostaria que alguém pensasse que você não está pagando o prometido de propósito, para matar sua esposa. Você também não quer que D-us pense isso, não é?”
O homem aquiesceu com a cabeça. “O que devo fazer, rabino?”
“Bem”, principiou o rabino, “para começar, deve tratar sua mulher muito bem, nos próximos meses.”
O homem ficou horrorizado. “Rabino, não consigo tratá-la nem um pouquinho bem porque, como lhe disse, não a suporto. E como o senhor quer que eu seja muito bonzinho com ela?”
“Isso é o mínimo que pode fazer para que as pessoas não achem que você a está matando de propósito, não é?”
O homem fez que sim com a cabeça e o rabino continuou. “Primeiro, compre-lhe um vestido novo. Quanto tempo faz que ela não ganha um vestido novo?”
O homem admitiu que há sete anos, desde que se casaram, a mulher não obtivera um vestido novo.
“E também”, prosseguiu o rabino, “dê-lhe um dinheirinho para gastar.”
O homem revirou os olhos. “Ela sempre se queixa de que não tem dinheiro o suficiente para fazer boas refeições. Mas sei que não passa de desculpa para me chatear!”
O rabino sorriu e acrescentou: “Diga-lhe algo gentil, de vez em quando. Até a elogie em púbico, só para que pensem que você realmente gosta dela, é claro”, acrescentou o rabino em tom conspirador.
O homem saiu radiante do escritório do rabino. Imediatamente se comprometeu com a doação de uma grande quantia para uma instituição de caridade e começou a contar as horas para o momento em que se veria livre da mulher. Porém, seguiu o conselho do rabino e saiu para comprar um vestido novo para a esposa. Ela, obviamente, não entendeu a mudança do marido. Quando ele também lhe deu uma “mesada”, ela foi ao mercado e comprou boas frutas e verduras, e até um pedacinho de carne. Preparou uma refeição deliciosa para demonstrar sua gratidão.
Semanas se passaram, com o homem riscando os dias no calendário e, ao mesmo tempo, comportando-se decentemente, pela primeira vez na vida, com a esposa.
Dois meses depois, o homem parou de marcar no calendário. Ele e a esposa estavam mais felizes do que nunca, desde seu casamento. Quanto mais agradável era o marido, quanto mais elogiava a esposa e tentava ajudá-la, mais ela tentava agradá-lo de todas as maneiras.
Após seis meses, o marido esquecera totalmente sua conversa e seu “combinado” com o rabino. Quando faltava pouco para completar um ano, lembrou-se da doação prometida e de suas conseqüências, caso não a pagasse. Imediatamente, correu ao rabino.
“Rabino, daqui a pouco fará um ano e ainda não paguei o prometido”, disse o homem, histérico.
“Nu”, disse o rabino, daqui a pouco você terá paz e tranqüilidade. Com que está preocupado?”
“O senhor não está entendendo. Amo minha esposa. É a melhor pessoa do mundo. Faz de tudo para me agradar e eu gosto tanto de fazer coisas para que ela se sinta feliz. Não quero que morra!”
“Puxa, é um problema”, respondeu o rabino. “Então você precisa pagar o que prometeu.”
“Mas rabino, prometi uma quantia imensa, que jamais poderia pagar!”
“Tem de tomar dinheiro emprestado e pagá-lo aos poucos. Vou até lhe dar uma carta de recomendação para alguns fundos de empréstimos sem juros,” ofereceu o rabino. “Afinal de contas, é uma questão de vida ou morte!”
“Nem sei como agradecer-lhe”, disse o marido aliviado. “A vida da minha esposa vale todo o dinheiro do mundo!”
O homem pegou emprestado o dinheiro para pagar o prometido. Devolveu o empréstimo em suaves prestações mensais e foram felizes para sempre.
(Traduzido de “L’Chaim Weekly”, www.lchaimweely.org)
(Reimpresso com permissão do
“Likrat Shabat on line” da
Yeshivá Tomchei Tmimim)